segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Olhar inesperado

tivera os olhos bem abertos

o real não teria tal rusga arredia

a pele do mundo talvez fosse mais lisa

tivera-os bem fechados

não ouviria o estrépito do gesto espasmódico

se intrometendo na visada involuntária

olhar inesperado

de esgueio

imagem para o canto

que do mundo

escorrega

num esgar

apertado

no canto do olho

inesperado cisco

sobe à retina esgarçada

ali não fica mais que um átimo

suficiente para assombrar no porão

a perene imaginação sob o régard

e num relâmpago irromper nas rachaduras do daydreaming

risco ruidoso que rasga o véu viscoso da vigília

distraída no limiar entre o céu e a bomba do posto de gasolina

entre o azul e o cartão de crédito

miragem de escanteio

na visada da córnea

mirada de corner

diagonal

deslize de íris oblíqua

menina deslocada

pupila dissimulada catando o pedaço de espaço que não coube no tamanho do instante:

espectro infame de um fantasma estrábico a girar no globo vazado

não houvera desejos o dia seria raso

as pontas angulosa do olhar se encontrariam

o tempo não escorreria para dentro da moldura

e aquela imagem vesga não ficaria ali

presa de viés em vez de fugaz

seria soprada ao invés de cingir-se aos cílios

arranhando a superfície vítrea sob a mucosa pálpebra

Nenhum comentário:

Postar um comentário