segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Primavera


Tivéssemos tempo a perder,
Não seria crime, minha senhora,
toda essa esquivez.
Sentar-nos-íamos plácidos
À margem do rio e ali ficaríamos a imaginar
Mil modos de nos amarmos.
Tu colherias, frívola, rara flor delicada
Por entre trilhas sinuosas;
Eu, recostado numa rocha,
Cantaria, lamurioso, minhas mágoas
Às lácteas águas do rio celeste.
Assim, sem nunca nos encontrarmos
Diante do vasto lago da eternidade
Nosso amor cresceria lento como as grandes árvores,
E, resignado em esperar até que estivesses madura
Para me dares teu fruto,
Quedar-me-ia diante de ti, de mãos dadas,
Contemplando-me no raso espelho de teus olhos.

Mas não é assim, cara senhora,
O fim de mais um dia me embriaga com a visão do paraíso,
E dele me despeço sem tristeza ou alegria.
Que bom é viver!
Tangerinas douradas pendem sobre minha testa,
Ao alcance de minhas mãos, a doce vinha,
Minha taça está sempre cheia e eu vivo a sorvê-la.
Se uma flor se me oferece
Que mais posso pretender senão colhê-la
Antes que feneça ao sol da tarde?

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